Engana-se quem pensa que o principal problema das startups no Brasil é o dinheiro ou o investimento em tecnologia. Um estudo da Fundação Dom Cabral, realizado em 2014, apontou que o desentendimento entre os sócios é o maior problema. Em uma reportagem realizada em 2017, o jornal Folha de S.Paulo, de uma maneira mais empírica, pontuou o mesmo problema.
De acordo com o FDC, as startups brasileiras com mais de um sócio tem uma chance 1,24x maior de morrer do que as empresas que contam apenas com um fundador. Um outro estudo, realizado pela Startup Farm e publicado em 2016, também apontou que problemas entre sócios, e falta de alinhamento entre a oferta do produto/serviço e demanda do mercado causam a morte de 74% das startups nos primeiros cinco anos.
Como é possível equacionar essa questão desde o início, evitando que problemas entre sócios atinjam a empresa, ainda mais no seu início, quando a energia precisa estar voltada para inovação e outros desafios dos problemas envolvendo o negócio?
Acordo entre Sócios
Poucas empresas sabem, mas junto ao Contrato Social, que é o documento de fundação da empresa, é possível estabelecer um outro documento, que regula os direitos e deveres dos sócios, o Acordo entre Sócios.
O conteúdo do Acordo entre Sócios pode esclarecer temas que muitas vezes ficam “obscurecidos” em uma sociedade, ou não são definidos previamente de maneira assertiva. Em uma startup, o acordo entre sócios precisa incluir o exercício da projeção futura da operação da empresa, para que as responsabilidades sejam definidas de maneira clara logo no começo.
Um acordo entre Sócios deve definir, por exemplo, as áreas da empresa que são de responsabilidade de cada sócio; a admissão de parentes dos sócios da empresa no quadro funcional; os termos para ingresso e saída de sócios –embora este último item também pode ser definido dentro do Contrato Social para evitar que seja necessário recorrer à Justiça para a retirada do sócio.
Outro ponto importante que pode ser definido por um Acordo entre Sócios e que impacta diretamente no funcionamento de uma startup é a definição de quem será o administrador da empresa. O gestor principal pode ser tanto um dos sócios, como alguém contratado para fazer a gestão. É possível também estipular um prazo máximo de permanência do gestor no cargo.
Tomada de decisão
Talvez o aspecto mais importante que um Acordo entre Sócio pode auxiliar uma startup é na definição do fluxo de tomada de decisão. Como a empresa é pequena, é natural que todos os sócios tomem todas as decisões em conjunto. Com o crescimento da organização, isso pode paralisar a operação, porque até mesmo decisões de menor relevância precisam passar pelo crivo de todos os sócios.
O Acordo entre os Sócios pode prever qual será o fluxo de decisões – e quais decisões precisarão ser tomadas de forma unâmine, ou quais poderão ser aprovadas somente com a maioria simples dos votos entre os sócios. Se a sociedade incluir apenas duas pessoas, o Acordo pode prever um determinado nível de decisões que podem ser tomadas por apenas um dos sócios, e quais decisões devem implicar obrigatoriamente a anuência de ambos os sócios.
Outro ponto relevante definido em um Acordo entre Sócios, e que diz respeito diretamente às operações de uma startup são as regras para não competição. É possível definir um hiato de tempo que previne ex-sócios de criarem empresas concorrentes. Como na maior parte dos casos uma startup implica no desenvolvimento de uma tecnologia ou metodologia de serviços, um acordo pode ajudar a proteger o negócio em caso de rupturas.